(Foto: Sérgio Lima/Folha Imagem) |
Ministro Antonio Palocci acompanha, de cara fechada, a cerimônia na qual Lula sancionou a MP 255 |
Apesar de ter recebido elogios públicos ontem, no discurso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou a “celeuma” com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci Filho continua insatisfeito. Ontem à noite, em conversa com Lula, disse que poderá deixar o Ministério da Fazenda se não tiver reivindicações atendidas.
Segundo a Folha apurou, Palocci pediu demissão a Lula na última quinta-feira. O presidente não aceitou e pediu que voltassem a conversar, o que aconteceu ontem à noite, no Palácio do Planalto. No encontro, Lula procurou convencê-lo a permanecer no cargo. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, participou do encontro.
O ministro condiciona a permanência à recomposição de seu poder no governo, o que passa pelo fim do chamado “fogo amigo” (críticas públicas de ministros e de caciques do PT) e sinais claros de que tem carta branca na área econômica. Ou seja: o que Lula dizia antes de Palocci ser atacado por Dilma em entrevista na qual ela chamou de “rudimentar” a proposta da equipe econômica de ajuste fiscal de longo prazo.
Ontem à noite, na conversa com Lula, Palocci mostrou contrariedade. Achou que o discurso de ontem, no qual o presidente deu nova demonstração de apoio à política econômica (leia texto na página A5), foi insuficiente. Ao discursar, Lula também disse que há espaço no governo “para que os ministros possam ter pensamentos diferenciados”.
Nos últimos dias, Palocci tem dado evidências de que sua insatisfação é real. Na quinta-feira passada, um dia depois de ter falado aos senadores na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, ele disse que achava “melhor sair” quando pediu demissão ao presidente. Uma semana antes, já havia dito a Lula que poderia deixar o cargo devido ao “fogo amigo” e à evolução da crise política (acusações de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto).
Fritura
Na última quinta, Lula rejeitou a possibilidade de saída do ministro. No dia seguinte, fez elogios a Palocci em entrevista a rádios. Na tarde do mesmo dia, porém, Dilma voltou a criticar o colega.
Palocci, então, passou a achar que está sendo fritado pelo presidente. Lula não pretende mudar a política econômica no principal, mas autorizou a ministra da Casa Civil a tentar diminuir o tamanho do esforço fiscal.
Na prática, esse esforço tem sido maior do que a meta oficial de superávit primário de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto). De janeiro a setembro, o superávit, que é toda a economia do setor público para pagar juros da dívida, registrou um acúmulo equivalente a 6,1% do PIB. Palocci gostaria de um superávit de 5%, sem oficializar a meta. A equipe econômica estima que, com aumento de gastos, o superávit terminará em 2005 em cerca de 4,6% do PIB.
Queixas
Na quinta, Palocci teve conversa franca com Lula, segundo relato dado pelo presidente e pelo ministro a amigos. Palocci criticou Dilma e se queixou do próprio presidente, dizendo achar que sua dubiedade na economia custaria a confiança dos investidores construída em três anos.
O ministro disse ainda achar um erro Lula estimular Dilma a enfrentá-lo, pois isso provocaria perda de sua credibilidade, algo fatal para um ministro da Fazenda. Lula respondeu que cobrava apenas execução orçamentária mais eficaz. Afirmou que o papel de Dilma era tirar projetos do papel e que ela lhe disse que encontrara obstáculos na equipe econômica, que seguraria recursos para elevar o superávit primário.
Lula repetiu que não desejava um superávit superior à meta oficial de 4,25%. O ministro afirmou que, em virtude do impacto dos juros altos sobre a dívida pública, o esforço fiscal deveria ser maior, ainda que não oficializado.
Palocci afirmou que nunca faltou verba para bons projetos e que a maioria das reclamações de ministros é desculpa para ineficiência. A conversa seguiu nesse tom até Lula pedir que o ministro esfriasse a cabeça para que voltassem a conversar em alguns dias.
Lula cancelou ontem a reunião de Coordenação de Governo, que seria realizada pela manhã, por falta de “clima” para um encontro entre Dilma e Palocci.
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