Depois de duas semanas de relações tensas, com trocas de farpas sobre a condução da política econômica, os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) vão estar frente a frente na reunião da coordenação política, hoje de manhã no Palácio do Planalto, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No fim de semana, Lula falou com os dois, convocando-os para a reunião, segundo fonte do governo. O presidente antecipou que quer pôr um ponto final nas divergências públicas entre eles.
Na reunião o presidente repetirá o que disse a interlocutores no fim de semana: quer manter Dilma e Palocci, mas não aceita mais a lavação de roupa suja em público. Lula espera que, depois da calmaria do fim de semana e de seu recado, as divergências fiquem zeradas a partir de hoje.
— Chega! O estrago dos últimos dias foi enorme — disse Lula.
Nas conversas dos últimos dias o presidente Lula manifestou impaciência com a forma temperamental como Palocci tratou, interna e externamente, seu embate com Dilma. A disputa entre os dois ministros ficou pública a partir das divergências em torno da proposta de ajuste fiscal de longo prazo, defendida por Palocci e chamada de rudimentar por Dilma.
O encontro de hoje não deve ser o único dos dois ministros nos próximos dias. Lula já avisou que quer ambos na reunião formal da Junta Orçamentária, provavelmente ainda esta semana. Palocci já faltou a duas reuniões preparatórias da Junta, semana passada, para não se encontrar com Dilma. Procurada para confirmar a presença do ministro na reunião de hoje, a assessoria de Palocci não respondeu às ligações.
Lula acha que fez o possível por Palocci
Lembrando que Palocci passou dos limites em alguns momentos — quando, por exemplo, ficou sério, demonstrando contrariedade, em solenidade no Palácio do Planalto — Lula tem dito que fez o possível e o impossível para fortalecer o ministro. Semana passada, deu várias demonstrações públicas de prestígio pessoal e garantiu a manutenção da política econômica. Lula não vê mais motivos para Palocci continuar irritado. No Palácio do Planalto, considera-se que Palocci estaria fazendo uma ação preventiva, ou seja, procurando uma forma honrosa de sair do governo. Assim, ele deixaria o ministério por suas divergências com Dilma e não pelas suspeitas que cercam seus ex-assessores de Ribeirão Preto.
Lula já admite, em conversas reservadas, um cenário sem a presença de Palocci. Não considera mais impossível essa hipótese.
O presidente vai aproveitar a reunião de hoje para deixar claro que deseja um debate mais técnico e menos temperamental no governo. Além de Dilma e Palocci, participam das reuniões os ministros Thomaz Bastos (Justiça), Jaques Wagner (Relações Institucionais) e, eventualmente, Ciro Gomes (Integração Nacional). Mas apesar da determinação de Lula, há quem ache no governo que o temperamento forte de Dilma e a relutância de Palocci em aceitar suas intervenções na área do Orçamento possam jogar mais combustível na crise.
O governo terá outro momento de tensão esta semana: o depoimento do assessor especial de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, amanhã, na CPI dos Bingos. O desempenho de Ademirson determinará a data da ida de Palocci à Comissão. O presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB), espera que isso ocorra antes de 10 de dezembro. A CPI identificou 1.434 telefonemas entre Ademirson e Vladimir Poleto (que teria levado, de Brasília para São Paulo, dólares de Cuba para a campanha do PT) entre 2003 e 2005, a maioria feita para um celular usado por Ademirson e pelo próprio Palocci.
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