Integrantes da CPI dos Correios afirmaram ontem que o pagamento de R$ 1 milhão feito pelo PT à Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar (PMR), em 17 de maio deste ano, aponta que o suposto caixa dois do partido é maior do que o revelado até agora pelo publicitário mineiro Marcos Valério de Souza.
Reconhecida pela Coteminas e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, mas ignorada pela atual direção do partido, a operação bancária, revelada ontem pela Folha, não aparece na quebra de sigilo das 16 contas do PT analisadas pela CPI dos Correios no período que vai de 2000 até o final do primeiro semestre de 2005 .
“Isso se liga a um possível caixa dois e temos que ver a origem desse dinheiro. Se o pessoal do PT diz que esse pagamento não foi contabilizado, há um caixa dois de recursos que não eram do sistema Valério”, disse o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele pretende incluir o caso no relatório que apresentará até o próximo dia 15.
No dia 10 de agosto o Bradesco avisou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), subordinado ao Ministério da Fazenda, do depósito feito na conta da Coteminas. O comprovante da operação bancária registra que o pagamento foi feito em dinheiro e, na lacuna a ser preenchida com o nome do depositante, aparece um dos CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) utilizados pelo Partido dos Trabalhadores.
O partido tem uma dívida de cerca de R$ 12 milhões com a empresa, que forneceu 2,75 milhões de camisetas em 2004, para serem usadas na campanha eleitoral.
O acerto feito foi o pagamento da dívida em três parcelas que venceriam em novembro e dezembro do ano passado e em janeiro deste ano, mas nenhuma havia sido paga até maio.
“Essa notícia apenas vem confirmar a certeza que tínhamos de que o 'valerioduto' é bem maior do que os R$ 55 milhões declarados. Parte desse dinheiro foi esquentado pelos empréstimos bancários. Certamente esse R$ 1 milhão veio de outra parte”, afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), relator-adjunto da CPI dos Correios.
A versão sustentada pelo PT e por Valério é que o caixa dois do partido foi abastecido por empréstimos bancários tomados pelo publicitário nos bancos Rural e BMG, no valor de R$ 55,8 milhões, e repassados ao partido.
Para integrantes da CPI, no entanto, essa operação teve o objetivo de esconder a verdadeira origem do dinheiro.
“Isso significa uma fonte nova de recursos não contabilizados pelo PT. Extrapola os R$ 55 milhões declarados como empréstimos bancários. Também traz à tona a falta de colaboração do Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT], além de expor o vice-presidente [da República], embora a empresa possa não ter nada a ver com isso”, disse o sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-MG).
Segundo Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar e presidente da Coteminas, o dinheiro foi levado “por uma senhora” do partido, de cujo nome não se lembra. Josué Gomes não discute a origem dos recursos: “Era dinheiro do PT. Eu não tenho por que pensar diferente”.
Pedido à Polícia Federal
Uma das providências a serem tomadas pela CPI, de acordo com Serraglio e Paes, será pedir à Polícia Federal que apresente a Josué fotos de Solange Pereira, funcionária que trabalhava para Delúbio Soares, de Simone Vasconcelos e de Geiza Dias, diretora financeira e gerente financeira da SMPB, agência da qual Marcos Valério era sócio, respectivamente. O objetivo é checar se alguma delas foi a portadora do dinheiro.
A CPI também vai convocar Solange de novo. O depoimento da funcionária da tesouraria do PT estava marcado para o último dia 16, mas a Polícia Federal não conseguiu encontrá-la para entregar a intimação. Ela estaria em uma praia de São Paulo na ocasião.
O relator da comissão afirmou ainda que solicitará a contabilidade da Coteminas para verificar se foi registrado o ingresso do dinheiro. “Se estiver tudo bem, até aí não há problema para a empresa”, disse Serraglio.
Foto: Jornal União
Deputado Osmar Serraglio
O sub-relator de movimentação financeira pedirá informações ao Coaf e ao Bradesco a respeito da operação para verificar como o dinheiro circulou.
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