Edson Luiz
Da equipe do Correio
A Polícia Federal prendeu na tarde de segunda-feira, no Pistão Sul, em Taguatinga, o assaltante Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, mentor e chefe da quadrilha que furtou R$ 164 milhões do Banco Central, em Fortaleza, em agosto de 2005. No Riacho Fundo II, onde estava morando havia oito meses, os agentes encontraram R$ 80 mil em um cofre escondido embaixo de um fogão, cujas cédulas estavam mofadas e que foram fruto do roubo. Alemão não reagiu ao ser abordado por dois agentes em frente a uma loja de pneus, mas preferiu só dar declarações em juízo. A PF prendeu também a mulher do assaltante, Rosângela Oliveira Pontes, e Antônio Rivaldo de Oliveira da Silva, um dos laranjas de Alemão.
Para os policiais, Alemão contou que estava em Brasília há um ano, uma hipótese rejeitada pela investigação. “As informações que temos é de que ele chegou há oito meses. Antes disso, esteve em São Paulo, Mato Grosso e Paraíba”, afirma o delegado Antônio Celso dos Santos, responsável pela investigação desde o início. O assaltante estava sendo monitorado há quatro meses, mas a possibilidade de prisão só surgiu na segunda-feira. “Ele seria preso no sábado, mas as circunstâncias não permitiram”, explica Santos, revelando que sempre havia pessoas ao seu redor, como no domingo, durante o churrasco que comemorou 41 anos, em um sítio em Cocalzinho (GO).
Apenas dois dos 15 policiais que atuaram na operação abordaram Alemão quando ele saía de um Fiat Strada, em frente a uma loja de pneus, no Pistão Sul. De lá, foi levado para casa, onde facilitou o trabalho da PF, indicando o local onde estava parte do dinheiro roubado do Banco Central. Antes, porém, os investigadores ameaçaram quebrar algumas dependências da casa para realizar uma varredura. O assaltante entregou o segredo e as chaves do cofre, escondido sob um fogão, na cozinha. A mulher de Alemão, Rosângela, estava escondida dentro de um armário, com R$ 5 mil na bolsa, e foi presa por também usar nome falso.
Fazendeiro
Alemão fingia ser um fazendeiro de médio porte e usava o nome de Antônio Joaquim Oliveira Paes para acobertar sua verdadeira identidade. Além do assalto ao Banco Central, ele estava sendo procurado por ter seqüestrado funcionários e familiares de uma empresa de transporte de valores em Brasília. Alemão também estava por trás da tentativa de roubo de um banco em Maceió e de um novo ataque ao Banco Central, em Porto Alegre, em 2006. “Essa é apenas a continuidade da Operação Toupeira, desencadeada a partir de Fortaleza”, observa o delegado.
O assaltante comprou dois carros e uma casa no Riacho Fundo II, cujas características são diferentes das demais residências da região, único fato que poderia mostrar sinais de riqueza. Investiu parte do dinheiro roubado no sítio de Cocalzinho, onde passava de três a quatro dias por semana, em um posto de gasolina e uma fazenda, em Nova Andradina (MS). Na região turística de Rio Manso, em Mato Grosso, adquiriu uma mansão e uma lancha de grande potência. Alemão, segundo a PF, teria mais imóveis em São Paulo, Paraíba e Ceará. Em sua casa de Brasília, os investigadores encontraram chaves de veículos, documentos em nome de outras pessoas, cartões de imobiliárias.
Apesar de a PF ter investigado que cada integrante da quadrilha recebeu cerca de R$ 4,9 milhões, Alemão pegou entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões, por ter sido o mentor e um dos financiadores do assalto. Com isso, e para evitar ser descoberto, contratou diversos laranjas, em cujos nomes eram comprados imóveis e carros. Um deles era Antônio Rivaldo, que cuidava do sítio, enquanto que Antônio Ferreira – também preso na segunda-feira, em Cuiabá – gerenciava um posto de gasolina em Mato Grosso. Os dois eram considerados de extrema confiança de Alemão, que deixou os cabelos e a barba crescer, mas pouco mudou de fisionomia. A PF deverá fazer novas detenções nas próximas horas.
Alemão, segundo as investigações da Polícia Federal, tinha ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa instalada dentro dos presídios paulistas. O assaltante era contribuinte do grupo. Após o roubo do Banco Central, teria entregue R$ 10 mil aos líderes do PCC, além de doar cestas básicas a familiares de presos no interior paulista. Segundo a advogada de Alemão, Ervênia Rodrigues, que o defende desde 1998, o cliente não quis prestar declarações à Polícia Federal, o que fará apenas na fase judicial. Ela afirmou que o assaltante nega ser o chefe da quadrilha e que não fala sobre o roubo do Banco Central. Ela o defende em outros oito processos, a maioria por roubo a bancos.
Uma saga criminosa
R$ 164 milhões foram roubados em 2005
26 ladrões foram presos
4 assaltantes acabaram assassinados
6 bandidos continuam foragidos
R$ 30 milhões em espécie foram recuperados até agora
R$ 30 milhões é o total de bens dos assaltantes
Poucas esperanças
A Polícia Federal acha praticamente impossível recuperar os R$ 164 milhões roubados do Banco Central, em Fortaleza. Até agora, a contabilidade é desfavorável, já que apenas R$ 60 milhões, em espécie e em imóveis, foram obtidos nos quase três anos de investigação. Os números mostram que o dinheiro foi pulverizado. Além das 36 pessoas envolvidas diretamente no crime, outras 50 tiveram influência indireta, atuando principalmente como laranjas nas aquisições feitas pelos assaltantes. Extorsão, seqüestro e mortes também fazem parte da história do maior roubo a banco ocorrido no Brasil. De todos os participantes, 26 estão presos, seis continuam foragidos e quatro foram assassinados.
“De R$ 100 milhões que faltam, esperamos recuperar mais R$ 30 milhões”, estima o delegado Antônio Celso dos Santos. “Se recuperarmos mais 30% já me sinto satisfeito”, diz Santos, que atua no caso desde a descoberta do roubo do Banco Central, em agosto de 2005, e foi o responsável pela elucidação da morte de quatro fiscais do Ministério do Trabalho em Unaí (MG).
O roubo do Banco Central começou com uma informação repassada por um servidor que tinha acesso ao interior da instituição. A partir dai, Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, passou a tramar uma forma de chegar à caixa forte, onde estavam R$ 164 milhões em notas de R$ 50, como as encontradas segunda-feira em sua casa. “As cédulas estavam da mesma forma como no dia em que foram roubadas”, conta o delegado. Coube a Alemão fazer as contratações de maior parte da mão-de-obra.
Após descobrir o crime, a PF dividiu a investigação em células. “Identificamos quem estava ligado a quem. E, como não tínhamos condições de apurar tudo de uma vez, fizemos o trabalho por células. Agora foi a vez de Alemão”, afirma Santos.
Nos últimos dois anos, o ataque ao BC também gerou outros crimes. Em várias parte do Nordeste, familiares de envolvidos foram seqüestrados e quatro assaltantes foram mortos, supostamente por policiais civis. Três deles teriam sido assassinados depois de terem sido extorquidos, um crime denunciado por todos os presos, menos por Alemão.
Com o sucesso alcançado em Fortaleza, os assaltantes resolveram expandir suas ações. Em uma mesma semana, dois grupos distintos, mas com ligações entre si, foram presos pela Operação Toupeira, que monitorava, por Brasília, a atuação da quadrilha. Em Porto Alegre, foram presas 28 pessoas dentro de um túnel que estava sendo construído para dar acesso à agência do BC no centro da cidade. O mesmo estava acontecendo em Maceió, em torno da Caixa Econômica Federal. (EL)
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