Responsável pelo início do inquérito que levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas começa curso na Academia da Polícia Federal.
O delegado Protógenes Queiroz, responsável pelo inquérito da Operação Satiagraha, começou ontem em Brasília o curso superior de polícia na academia da corporação. Afastado das investigações do caso, o policial cumprirá 30 dias de aulas necessárias à conclusão do programa pré-requisito para a acessão à classe especial, último degrau na carreira. Enquanto isso,
Protógenes chegou por volta das 7h30 na academia, localizada na região do Colorado. Deixou o prédio para almoçar. Pediu um PF (prato feito) num restaurante do Flamingo Shopping, centro comercial às margens da BR-020. Ele evitou falar com a imprensa. O delegado divide a sala de aula com colegas nomeados pelo diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, para ocupar postos na direção da Casa. Corrêa cobrou explicações do delegado sobre a execução da Satiagraha.
Antes de viajar para a capital do país, Protógenes finalizou um relatório que engloba parte da investigação. No documento, ele acusa o banqueiro Daniel Dantas e outras nove pessoas de gestão fraudulenta e formação de quadrilha. O policial sustenta que o dono do Grupo Opportunity mantinha um conglomerado de empresas para a prática de ilícitos no mercado financeiro. As informações serão analisadas por representantes do Ministério Público Federal
Ao deixar o prédio da Superintendência da PF
Inquéritos
Além do inquérito relatado por Protógenes, que trata dos crimes de gestão fraudulenta e formação de quadrilha, há outros dois inquéritos
O quarto inquérito do caso já foi alvo de denúncia por parte do MPF. Trata-se de acusação contra Dantas, Hugo Sérgio Chicaroni e Humberto José da Rocha Braz por corrupção ativa, aceita pelo juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. Pesa contra o trio a suspeita de que tenham tentado subornar um delegado federal encarregado da investigação. A ação foi toda monitorada pela polícia e resultou na apreensão de R$ 1,2 milhão que seriam usado na transação.
Força-tarefa e muita calma
São Paulo — Depois de dias de tensão e muita divergência, a nova equipe de delegados da Polícia Federal, encarregada de dar prosseguimento às investigações da Operação Satiagraha, começou a semana tratando de apagar de vez o clima de fogo cruzado que havia sido instalado entre polícia, Ministério Público Federal
Acompanhado de integrantes da nova equipe, o delegado chegou pouco antes das 19h para uma conversa cordial e a portas fechadas, que teria, entre outros objetivos, acertar arestas, afinar discursos, reconduzir o trabalho das duas instituições a linhas de investigação comuns e, principalmente, ao clima de normalidade. Econômico nas palavras, Saadi concordou que houve mudança no foco central do trabalho, basicamente em razão do interesse da mídia pela divulgação das divergências em torno da condução do caso.
O delegado falou sobre os dois procedimentos que vão dar continuidade à apuração de crimes, como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e corrupção, entre outros delitos, além do envolvimento de novos suspeitos de participação no esquema que teria desviado, em 12 anos, cerca de US$ 2 bilhões.
Foi sob o argumento de aprofundar e agilizar essa apuração restante de forma eficiente que a PF montou uma força-tarefa composta por mais de 50 profissionais. O pequeno batalhão começou a trabalhar ontem na análise do material recolhido ao longo do cumprimento dos 58 mandados de busca e apreensão.
São mais de uma tonelada de documentos, incluindo CDs e DVDs, que ficaram isolados e protegidos em uma das salas da PF, a serem analisados e periciados. O grupo é formado por agentes da PF, procuradores do MPF, funcionários da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e até do Banco Central. Antes do início do trabalho, a equipe se reuniu para definir procedimentos de atuação desejados para essa etapa da operação.
Obstrução
A chegada da força-tarefa ocorre apenas dois dias depois da divulgação da informação de que o Ministério Público Federal iria instaurar procedimento para investigar se houve suposta tentativa de obstrução da PF ao trabalho da própria PF. O MPFP foi provocado a apurar os fatos por um ofício no qual Protógenes se queixou de falta de recursos humanos e materiais para o bom andamento dos trabalhos no inquérito da Satiagraha e, também, de vazamento de informações.
O ofício foi distribuído internamente ontem para o procurador da República
O procurador também quer que seja entregue a fita com a gravação da reunião de semana passada entre Protógenes Queiroz e a cúpula da PF, quando teria sido decidida a saída do delegado do caso. Ele requereu ainda uma relação de eventuais procedimentos disciplinares que já tenham sido instaurados pela PF para apurar condutas ao longo de toda a investigação. O TRF negou ontem pedido de liminar em habeas corpus impetrado pela defesa de Humberto Braz, que permanece preso na sede da PF, assim como Hugo Chicaroni.
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