Eleito para seu segundo mandato e com o título de senador mais votado da história de Brasília, Cristovam Buarque (PDT) não atribui o sucesso nas eleições aos oito anos que já passou na Casa. Para ele, o segredo do ótimo desempenho nas urnas são, principalmente, os projetos que desenvolveu durante seus quatro anos à frente do Governo do Distrito Federal, entre 1995 e 1998. “O meu tempo como governador contribuiu mais até do que o meu mandato no Senado. Foi muito bom ver como as pessoas têm um grande reconhecimento pelo meu trabalho no GDF”, explica Cristovam.
Surpreso com a grande adesão de petistas à campanha dele, o senador reeleito afirma que, a partir de agora, vai “mergulhar de cabeça” na campanha de Agnelo Queiroz para tentar ajudá-lo no segundo turno. “Saí do PT há cinco anos e, de repente, descobri uma militância que foi para a rua com uma força e um amor muito grandes às minhas causas”, conta.
Cristovam Buarque defende a polêmica aliança com o PMDB de Tadeu Filippelli e acredita que, nas próximas semanas, será possível convencer o eleitor de que a união foi necessária para acabar com a hegemonia da família Roriz no DF. “Chegou a hora de Brasília estancar de uma vez o rorizismo. Tenho a convicção de que eles (os peemedebistas) vieram para participar de um governo diferente. Se alguns acham que vão poder se aproveitar, cabe a nós mostrar que eles se enganaram e que deviam ter ficado do lado de lá”, diz o pedetista. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o senador reeleito.
“Minha experiência no GDF foi fundamental”
“Vou mergulhar totalmente na campanha do Agnelo. Chegou a hora de Brasília estancar de uma vez o rorizismo”
O senhor teve 833.480 votos e se tornou o senador mais votado da história de Brasília. A que atribui esse número tão expressivo de eleitores?
Atribuo, principalmente, ao meu trabalho de muitos anos, que vem desde 1994, quando me elegi governador, e depois virei senador. Acho que deixei uma boa marca, mas devo muito também aos militantes de vários partidos, sobretudo do PT. Saí do partido há cinco anos e descobri uma militância que foi para a rua com uma força e um amor muito grandes às minhas causas.
Esse apoio irrestrito do PT o surpreendeu?
Sim, achei que haveria uma boa relação, mas não esse grande entusiasmo que vi nas ruas por parte da militância. E o que contribuiu de forma fundamental para isso foi o meu tempo como governador, mais até do que o meu mandato de senador. Uma coisa muito boa nesta campanha foi ver como as pessoas nas ruas têm um grande reconhecimento pelo meu trabalho.
Depois de oito anos como senador e com mais um mandato pela frente, não é frustrante ser mais reconhecido pelo trabalho como governador?
Acredito que não. Fui eleito com boa votação sem ter feito propostas específicas para Brasília. A maior parte das minhas propostas era para o Brasil. Falei sobre a revolução na educação, a necessidade de estabilidade monetária, lutei pelo meio ambiente, pela defesa do crescimento econômico com equilíbrio ecológico. Agora, vou levantar a bandeira da saúde igual para todos.
Como senador, de que forma o senhor pode atuar mais especificamente em prol de Brasília?
Posso ajudar com emendas (parlamentares), apesar de não ser muito favorável a isso. Acho que tudo deveria ser incluído no Orçamento. Mas sempre coloco emendas em favor de Brasília, luto pelos direitos de nossos trabalhadores. Ajudei os PMs, os professores, tenho lutado por Brasília. Mas a proposta que fiz é para o Brasil inteiro.
Que balanço o senhor faz de seu primeiro mandato como senador e o que vai mudar na sua atuação nos próximos oito anos?
Faço um balanço muito satisfatório do meu mandato. Consegui a sanção de sete leis e não foram quaisquer leis. Implantei o piso salarial para professores, criei a legislação que garante vaga para qualquer criança na escola a partir do dia em que fizer 4 anos e a lei que obriga o estado a oferecer vagas no ensino médio. Na minha avaliação, representei bem Brasília. Fui ministro da Educação, me candidatei à Presidência da República, discuti a reforma política. Foram oito anos produtivos.
Como pretende trabalhar na campanha do segundo turno tanto no DF como na disputa à Presidência da República?
Aqui no DF, vou mergulhar totalmente na campanha do Agnelo. Chegou a hora de Brasília estancar de uma vez o rorizismo. Considero natural que o rorizismo seja extinto. Somando os votos do Agnelo, do Toninho e do Eduardo Brandão, há uma maioria muito expressiva, de quase 70%. Acho que com mais tempo haverá evasão no lado rorizista, quando perceberem que a candidata é a mulher dele, não ele. Quanto à campanha nacional, vai depender do que me pedirem e do que eu puder fazer.
Muitos eleitores e até mesmo opositores do primeiro turno criticaram as coligações de Agnelo, principalmente por conta da aliança com o PMDB. É possível vencer essa resistência?
É possível convencer as pessoas que ainda têm receio. Mostrar que a gente não mudou de lado. O PMDB e o Filippelli vieram para o lado de cá. Não houve corrupção do nosso lado, mas uma conscientização por parte deles, que entenderam que se esgotou o tempo do rorizismo e daquele tipo de governo. Se alguém do lado do Filippelli pensa que o governo de Agnelo vai ser o mesmo de antes, está muito enganado.
Qual o impacto da crise política recente e do escândalo da Caixa de Pandora no cenário do DF?
A quantidade de votos nulos e brancos é uma amostra de como ficou esse cenário, assim como o número de votos para o Toninho. Parte dos votos dele veio de socialistas, outra veio de pessoas indignadas. Acho positivo. Mas não pode haver ilusão de que foram votos na ideologia dele, mas sim na ética dele, que é boa.
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