Fonte: O Fluminense
Por Sandro Mauro Araujo*
As imagens são, realmente, estarrecedoras, cruas, impactantes. Ver o policial francês sendo executado de forma impiedosa pelos terroristas em Paris foi algo capaz de chocar o mais insensível dos espectadores. O argumento de uma suposta guerra santa ganhou eco pelo mundo. Incoerente é tal conceito, pois a santidade é, definitivamente, uma coisa que guerra alguma carrega.
Mas, uma reflexão surgiu, diante da barbárie mostrada na Cidade Luz, expoente máximo do Velho Mundo. Ficamos tão incomodados com o que vimos acontecer em Paris e em momento algum atentamos para o fato de que aqui, em terras tupiniquins, a morte, a insensatez, a falta de interesse pela vida humana é uma constante. Aos montes, policiais são mortos nas ruas em situações iguais ou piores que a dos oficiais franceses. A simples possibilidade do cidadão pertencer aos quadros das forças de segurança brasileiras, já é suficiente para que sejam assassinados por bandidos movidos por razões toscas. Em muitas dessas ocasiões, os policiais são mortos diante de suas próprias famílias, em momentos de folga, apenas por terem sua identificação encontrada pelos seus algozes.
Da mesma forma, milhares de cidadãos, e entre eles muitos cartunistas e jornalistas, são dizimados todos os dias no Brasil, ao terem suas casas e seus ambientes de trabalho invadidos por indivíduos que jamais ouviram falar em guerra santa. É uma guerra sim. Jamais uma guerra santa. A guerra que vivemos 365 dias por ano no Brasil, que é minuciosamente planejada por descasos enormes com a gestão de políticas de segurança pública, em todos os níveis.
Os soldados que nos dizimam nesta guerra, são forjados no abismo que encontram segundos depois de virem ao mundo. Diante de uma sociedade de valores distorcidos de ética e sensatez, o ódio pela ordem vigente ganha cada vez mais adeptos, entre os chamados bandidos declarados e seus simpatizantes.
Ou será que alguém julga que entre as duas centenas de pessoas que roubaram as motos de um depósito público no Rio de Janeiro, estão apenas praticantes contumazes de crimes? Estarrecedor é perceber a facilidade encontrada pelos criminosos em arregimentar simpatizantes capazes de realizar tamanha manobra. E assim seguimos. Comovidos, com toda a razão, com as desgraças que eclodem no Primeiro Mundo, e quase que totalmente alheios à nossa própria tragédia, que é contínua, não para, e para a infelicidade desta nação, parece não nos dizer muito respeito.
* Sandro Mauro Araujo, Agente da Polícia Federal e Coordenador do Projeto Geração Careta
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