É cada vez mais evidente o fracasso da guerra às drogas declarada há cerca de 40 anos pelo presidente Nixon, dos EUA. Números demonstram ser impossível vencer militarmente essa guerra, apesar dos bilhões de dólares investidos com esse objetivo. A produção e o consumo globais só fazem subir, assim como a violência associada a este comércio. Dados da ONU citados pelo jornal “Financial Times” estimam em 272 milhões os usuários de drogas ilegais em todo o mundo, dos quais 250 mil morrem a cada ano. Somente o tráfico de cocaína gera lucros anuais estimados pela ONU em US$ 85 bilhões, o equivalente a seis vezes o lucro da Coca-Cola no ano passado, antes do pagamento de impostos, segundo o jornal londrino.
A violência atinge níveis além da imaginação. No México, calcula-se que 40 mil pessoas foram mortas, a maioria por traficantes, desde que o presidente Felipe Calderón assumiu, há quatro anos e meio, e declarou sua própria guerra às drogas, pondo o Exército nas ruas. Mas ele não tinha outra saída: seu governo estava a ponto de ser engolido pelos cartéis que controlam grande parte do território mexicano. O presidente adotou medidas para agilizar a atuação da Justiça, multiplicou por seis o efetivo da polícia federal e conseguiu eliminar ou capturar a metade dos líderes dos 37 cartéis que atuam no país. Mas a violência e o tráfico continuam.
Também é dramática a situação da América Central, onde a violência, associada à venda e ao consumo de drogas, supera, segundo algumas estimativas, a situação no Iraque e no Afeganistão. Em El Salvador, o país mais violento, o número de homicídios alcançou 71 por cem mil habitantes, contra 25 no Brasil, menos de seis nos EUA e menos de dois na Europa. O Banco Mundial calcula que o crime e a violência custem à América Central 8% de seu PIB.
O exemplo mais eloquente do fracasso da via militar é o Afeganistão. Nem a presença de cem mil bem treinados soldados dos EUA e da Otan, com armas sofisticadas, foi suficiente para reduzir a produção de ópio no país, responsável por dois terços da oferta global de heroína, segundo o “Financial Times”.
O único caso de relativo sucesso da estratégia americana é a Colômbia, mas apenas se for considerado o número de homicídios, que caiu, e não a exportação de drogas ilegais, que se manteve.
É preciso novos métodos e novas abordagens para buscar metas mais realistas, como diferenciar o usuário do traficante, para dar aos viciados alternativas de tratamento. Se é fato consumado que muitas pessoas caem na armadilha das drogas, é justo dar-lhes também o direito de sair.
A descriminalização de drogas leves é uma alternativa que deve ser cada vez mais levada em conta pelos países. Neste sentido, é importante o trabalho que vem realizando a Comissão Global de Política sobre Drogas, comandada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em relação à regulamentação da venda da maconha. Vários países que optaram por essa estratégia estão colhendo bons resultados.
Fonte: O Globo
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